A autoimagem é a percepção que cada pessoa tem sobre si mesma.
Apesar de conter a palavra imagem, que significa « representação de forma de uma pessoa ou de um objeto », a concepção de autoimagem vai além do que pode ser percebido fisicamente. Na realidade a autoimagem compreende a percepção da nossa representação externa e interna, ou seja, como nos percebemos em relação ao nosso caráter, à nossa personalidade, às nossas capacidades, qualidades e defeitos, à nossa aparência, entre outros aspectos ligados à nós mesmos.
A autoimagem tem relação direta com a nossa autoestima. Ou seja, a maneira como eu me vejo vai influenciar diretamente na estima que tenho por mim mesma e em como eu me avalio.
A forma como nos vemos e nos avaliamos depende de diversos fatores primordiais, entre os quais penso serem os mais importantes:
- A relação primitiva com a mãe (ou qualquer cuidador que desempenhar a função materna)
-A interferência do meio familiar e social onde crescemos e vivemos.
No texto de hoje vou desenvolver mais sobre a influência da relação primitiva com a mãe, na formação da nossa autoimagem e autoestima, deixando os fatores ambientais e sociais para serem abordados no próximo texto.
A relação mãe x bebê tem no início da vida para a criança, representatividade de uma unidade. Esta fase, que dura do zero ao terceiro ou quarto mês aproximadamente, é compreendida pela Psicanálise como uma fase de simbiose ou de indiferenciação, ou seja, o bebê ainda não consegue se perceber como uma unidade, um indivíduo-individual. Portanto, é a mãe que proporciona ao bebê um ambiente acolhedor e protetor, acalmando suas angústias.
É por isto que neste momento do desenvolvimento, o rosto e o olhar materno são de extrema importância para o sujeito, e tem relação direta com a autoimagem e consequentemente com a autoestima ; Isto porque eles serão o primeiro espelho para a criança.
Portanto, todo o investimento afetivo depositado no ato de olhar com carinho e de sorrir, bem como o tom da voz utilizado para conversar, o contato com a pele e todos os movimentos de afeto nesta troca mãe x bebê, vão ajudar o sujeito, no futuro, a se enxergar com maior positividade.
Em outras palavras eu diria que este reflexo saudável é experienciado pelo bebê de forma muito agradável, isto porque, se a mãe e o bebê formam, para este último, uma unidade, o bebê perceberá como dele mesmo todo este afeto e constituirá sua autoimagem e autoestima com mais confiança em si.
O contrário, como por exemplo, ter uma mãe na maior parte do tempo deprimida ou raivosa, pode deixar marcas na forma como o sujeito vai se enxergar mais tarde, pois no início da vida seu espelho/mãe refletia imagens hostis.
Com isto, eu não estou afirmando que as mães devem estar sempre bem e que elas não têm o direito de se entristecer, de sentir medo e dúvida. Sabemos que a maternidade real é um desafio muito grande e que pode desencadear muitos sentimentos que vão desde a depressão à despersonalização; e que conectar-se e assumir estes sentimentos pode ajudá-la a conversar com as pessoas do seu ciclo familiar e buscar ajuda psicológica quando necessário.
Ter esta noção de fragilidade psíquica , bastante comum após o nascimento de um bebê, assumi-la e poder falar e compreender tais sentimentos, ajudará a mulher a não se culpabilizar e a separar o que é seu e o que ela escolhe transmitir ao bebê.
De qualquer forma uma mãe «suficientemente boa», expressão utilizada pelo Psicanalista inglês Donald Winnicott, é aquela que se adapta ao bebê, mas que percebe, com o passar do tempo, que pode começar à frustrá-lo, não respondendo imediatamente à todas as suas demandas.
São estas frustrações que ajudarão o bebê a perceber que a mãe é uma pessoa separada dele e que ele deve aprender a esperar (fase de separação e individuação). Esta consciência de separação que nasce das frustrações, ajudarão a criança à aprender a « lutar » pelo que deseja de formas mais variadas, e não apenas pelo choro.
Frustrar pouco a pouco uma criança vai impulsioná-la no desenvolvimento da auto confiança, influenciando vários âmbitos de sua vida, como por exemplo no desenvolvimento da linguagem e dos primeiros passos. Isto acontece quando a mãe não lhe responde prontamente à todas as suas demandas porquê compreende que a criança já tem condições de esperar ou de criar meios para realizar o que deseja.
Portanto, se analisarmos as fases de simbiose e de separação e individuação compreenderemos que receber da mãe/espelho um olhar/reflexo acolhedor e amoroso vai proporcionar à criança posteriormente, uma boa autoimagem e autoestima, e assim uma busca mais segura na descoberta do mundo, mesmo quando ela for frustrada. Estas duas fases contribuirão para que a criança siga caminhando rumo à sua independência.
Na medida em que a criança vai se independizando, todo o meio familiar e o ambiente onde ela se desenvolve também ganham extrema importância para como ela se vê e se avalia.
E é sobre os atravessamentos e a influência da família e da sociedade que falarei no próximo texto, para continuar minha reflexão sobre autoimagem e autoestima.
Boa leitura
Denise GAELZER MAC GINITY
Psicóloga Clínica/Psicanalista em Paris
Telefone : 06 68 08 12 80
degaelzer@gmail.com
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