Finalizando a série de textos sobre autoimagem e autoestima, proponho uma reflexão sobre a influência das redes sociais em nossas vidas, finalizando com algumas idéias de como se sentir melhor consigo mesma, mesmo em meio à tantas exigências socioculturais.
As redes sociais ganharam enorme espaço em nossas vidas e modificaram a forma de nos relacionarmos com os outros, mas também com nós mesmos. Elas são consideradas como fonte de influência social e tem um lugar de destaque no que concerne o « controle » sob o indivíduo, sob seu padrão de comportamento, de estilo, de atitude, podendo afetar diretamente sua autoimagem e autoestima.
As redes sociais, como « Instagram » e « Facebook » por exemplo acabaram por se tornar um dispositivo para o incentivo de exigências idealizadas e para a busca pela « fabricação » de um corpo padronizado, ou de modos de vida generalizados.
Entretanto, aqueles que não se encaixam nos padrões apresentados por inúmeras « influenciadoras », acabam por ter sua autoimagem abalada, pois consideram-se fora dos padrões de beleza, de estilo e de modos de viver vigentes no momento.
Com isto, algumas mulheres acabam se submetendo à inúmeros procedimentos estéticos de risco, ou desnecessários, para se encaixar no modelo corporal que lhes é apresentado como « perfeito » à partir de fotos compartilhadas por modelos ou atrizes. Outras tantas encaram dietas restritivas também padronizadas com o objetivo de alcançar o corpo tão desejado, mas sem se preocupar com a saúde. Não são poucas as « influenciadoras » que prescrevem « dicas » de alimentação e dietas para seus seguidores. A maioria delas nunca estudou sobre e ainda generalizam as « dicas » como se todo o corpo fosse igual e precisasse do mesmo plano alimentar.
Este efeito padronizador produzido pelas redes sociais reforça uma tendência atual: a necessidade de afirmação à partir do olhar do outro. É como se procurássemos sempre uma revivência (ou um reforço) de um olhar materno que acolhe e que aprova, o que denuncia um certo grau de imaturidade e dependência.
Isto mostra ainda, em menor ou maior grau, a fragilidade de nossa autoestima na atualidade.
Algumas pessoas chegam a ter a sua autoimagem e autoestima associadas ao número de seguidores nas redes sociais e ao número de « likes » em suas publicações.Isto acaba criando um efeito « fake » em relação à vida das pessoas, onde o que é postado deve apenas evidenciar a felicidade e o socialmente aceito. Ou seja, o que é compartilhado carrega consigo uma imagem ilusória de uma vida perfeita.
Esta tendência têm deixado as pessoas cada vez mais deprimidas e ansiosas, pois este ideal ilusório nunca será alcançado.
Mas o que fazer para fugir deste padrão e gostar de si independente do que é ditado na web ?
Não existe uma resposta ou uma fórmula mágica para ensinar as pessoas a gostarem de si mesmas, de sua imagem interna e externa. Cada pessoa têm sua história, suas marcas individuais, sua subjetividade. Generalizar e dar « dicas » seria, justamente, entrar no modelo de padronização atual.
Porém algumas reflexões podem ser feitas por cada uma de nós, à partir da nossa personalidade e da nossa história.
Como hoje em dia nos confrontamos com os excessos da ordem do normativo, refletir sobre o quanto estamos adaptados à padrões, e nos questionarmos porquê os seguimos, pode ser um método de desconstrução destes discursos dominantes.
Um tratamento psicológico/psicanalítico pode ser essencial para que cada pessoa faça sua própria reflexão do quanto está inserido neste fenômeno contemporâneo, e do quanto isto lhe atinge, lhe entristece e/ou angustia.
Este tipo de tratamento costuma direcionar as reflexões do sujeito à aceitação de seu corpo à partir da sua falta, da sua incompletude; trabalhando suas potências individuais e fazendo com que cada mulher possa se amar aceitando-se humana e não perfeita.
Aprender a pensar em saúde e não em ideais é um caminho para que as mulheres se liberem dos padrões impostos, mas continuem cuidando de si, de seus corpos e de sua saúde mental.
Debater este assunto com outras mulheres é outro meio de libertação, pois a troca de experiência e pensamentos acolhem nossas angustias e tristezas, ampliam nossas reflexões, e nos ajudam no exercício de aceitação das diferenças. Ao aceitarmos nossas diferenças, poderemos nos libertar da tirania da juventude como sinônimo de beleza, característica central da cultura ocidental.
Além disto, o diálogo com outras mulheres, mulheres ‘reais’, nos ajuda a nos darmos conta que a perfeição e o ideal não existem. O encontro com histórias reais pode ser ótimo para a diminuição das angústias provocadas pela ilusão das redes sociais.
Por fim, ao aprender a nos aceitarmos individualmente, diferentes e humanas, sentimos a maravilhosa sensação de sermos únicas… E é libertador!
Denise GAELZER MAC GINITY
Psicóloga Clínica/Psicanalista em Paris
Telefone : 06 68 08 12 80
degaelzer@gmail.com
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